Mais um ano que se completa do maior acidente ambiental do Brasil ocorrido em Mariana, Minas Gerais, em 2015, referente ao rompimento da barragem de Fundão, da exploradora de minérios Samarco e de mais duas sócias: Vale e BHP. Essa situação, que matou dezenove pessoas e acabou por contaminar 660 km de águas ao longo da bacia do Rio Doce, chegando até o mar, Oceano Atlântico, na costa próxima ao norte do espírito Santo e sul da Bahia, atingindo e prejudicando até o arquipélago marítimo de Abrolhos, santuário de corais e aves de beleza infinita, em função das correntes marítimas que chegam até lá lentamente, está longe de se resolver.
Esse ano, dois anos após o ocorrido, com o efeito do clima de extrema seca —baixa vazão e altas temperaturas — esses fatores potencializaram os contaminantes e diminuíram a dispersão desses, pelas águas do Rio Doce. Não há previsão de quando a água do Rio Doce estará disponível para o consumo e será muito difícil a vida, novamente, dos peixes nesse rio, pela densidade muito alta, devido aos rejeitos de minérios nas águas que continuam ainda na extensão de todo o rio, levando aos baixos índices de oxigênio e acabando por prejudicar a continuação de vida das espécies.
Não bastasse a perda ambiental, o núcleo social diretamente afetado pelo desastre também está sem rumo e sem melhorias. Não bastasse o grande impacto sofrido, seja pela perda da moradia ou pela morte de parentes e amigos, os moradores afetados de toda aquela região são discriminados pelos outros moradores de Mariana, para onde foram levados, provisoriamente e, segundo os relatos deles, houve a necessidade da construção de uma escola para as crianças vítimas do desastre, aumentando a situação segregatista desse grupo de pessoas. O poder público age de uma forma muito lenta e parece até tratar com descaso para as vidas que, hoje, estão sem identidade e perderam um pedaço de sua memória.
Economicamente, a empresa Samarco está sem receita e não consegue pagar todas as multas a ela impostas. Somente foram pagas duas das mais de sessenta multas aplicadas por órgãos municipais e estaduais. É bastante complexo esse problema, mas o poder público também não colabora em avançar com melhorias necessárias. Tememos que outras situações como esta possam acontecer em outros locais do país pela potencialidade de exploração que o governo federal parece querer incentivar. Quantos desastres mais poderão acontecer, visto que tudo parece ser feito sem planejamento e respeito ao ser humano e à natureza?
Enquanto isso, no mundo, esse mês, mais uma reunião da Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre Mudança do Clima (A COP 23- é o nome informal da 23º Conferência das Partes da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (UNFCCC).) acontece com o objetivo de consolidar o Acordo de Paris e as suas Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs, em inglês) para limitar o aumento da temperatura global da Terra, que, para nossa sobrevivência, não deve se elevar em mais de 2 graus Celsius. Esse ano, a reunião acontece em Bonn, na Alemanha, e chefes de estado de mais de 150 países, juntamente com a sociedade civil, pesquisadores, ambientalistas e empresários, buscam a consolidação para o Acordo de Paris.
Precisamos desconstruir muitos paradigmas, porque, nos dias de hoje, com a velocidade e a aproximação da Internet das Coisas (IoT), um conceito tecnológico em que todos os objetos da vida cotidiana estariam conectados à internet, agindo de modo inteligente e sensorial, quem gostaria que tudo isso acontecesse de uma forma tão lenta assim? Precisamos de mais interdisciplinaridade!
Como seria se isso acontecesse em sua empresa e como teríamos que solucionar e buscar alternativas para tal problema? Quando o poder público é envolvido, perdemos o tempo como nosso aliado. Precisamos mudar muitos conceitos em nossas vidas para vivermos melhor. Inicia-se o tempo de reflexão.
Silvia Regina Linberger dos Anjos, sócia gerente da Maqtinpel. Química, tecnóloga gráfica com especialização em gerenciamento ambiental, mestrada em tecnologia ambiental, membro da comissão de questões ambientais da NOS-27, colaborada voluntária da comunidade EQA (equipe de qualidade ambiental) da Escola Theobaldo De Nigris.
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