O que essa técnica pode fazer por você?
Entra ano, sai ano, novas tecnologias de impressão revolucionam o mercado e continuamos ouvindo: “a serigrafia está com os dias contados…”, o que nunca aconteceu. Mas por que nenhum outro método, técnica ou tecnologia até hoje conseguiu substituir esse processo milenar e quase artesanal? A resposta é bastante simples: a razão é que nada é tão versátil, barato e oferece tanta produtividade quanto a serigrafia.
E muitos não sabem, mas a serigrafia está presente em grande parte do que vemos e vestimos, mesmo com a entrada forte da sublimação no mercado. A serigrafia é o coração da moda e, depois da tatuagem, a estampa é a identidade visual que temos mais próxima ao corpo. “O ser humano sente necessidade de fazer parte de um grupo e é isso o que a estampa cria. As modelagens de roupas são praticamente iguais, o que muda é a mensagem que a roupa transmite e isso vem principalmente da serigrafia e seus efeitos diferenciados”, diz Rafael Barcha, da Brasilk, uma das maiores estamparias de localizados do país.
A sublimação – é fato – veio e tirou da serigrafia uma parte desse mercado, mas a despeito do que muita gente acha, a serigrafia não só não morreu, como vem voltando com força também na moda, com efeitos especiais, localizados e ganha na diferenciação, o que a sublimação não consegue alcançar. “A estampa fala e é a alma da confecção. Ela agrega valor, dá identidade. Se você vai comprar uma roupa, gosta muito da peça e percebe que a costura está solta, você leva assim mesmo. Mas se a estampa estiver mal feita ou borrada, você não compra. Isso prova a importância da serigrafia”, comenta Barcha.
Recentemente, fizemos uma matéria sobre a volta do plastisol, que vem ganhando força novamente na moda, diferenciando as peças que, produzidas por sublimação, acabam não oferecendo um quê a mais para o consumidor. E aí entram também o foil e a flocagem (que são aplicados com cola serigráfica), a corrosão, a indexação, entre muitos outros processos serigráficos que conferem estilo a uma peça de roupa e que diferenciam seus usuários. Se a busca pelo personalizado é cada vez maior e mais freqüente na vida do brasileiro, por que vestir o que todo mundo veste?
Mas nem só de moda vive a serigrafia. O processo é utilizado industrialmente em larga escala, e está presente em nossas vidas muito mais do que podemos imaginar… Você sabia, por exemplo, que os motores de automóveis são selados a partir de uma técnica serigráfica? E que o desembaçador do vidro traseiro também é feito por serigrafia, com tinta metálica condutiva? E que o teto e as partes internas laterais, que dão a sensação de veludo, são feitas por flocagem, também utilizando técnica serigráfica?
A serigrafia também está presente em muitas embalagens, incluindo os vidros de perfume, frascos de desodorante, alguns vidros de xampu, circuitos impressos de aparelhos eletro-eletrônicos e até mesmo algumas embalagens de comida. Tudo vai depender da escala de produção, já que há coisas que são mais viáveis em serigrafia do que em off-set, por exemplo. Na verdade, os processos de impressão em papel hoje são classificados em alta tiragem (onde entra o off-set), média tiragem (campo da serigrafia) e baixa tiragem (quando vale a pena a impressão digital).
Campanhas grandes em supermercados, onde existe a necessidade de impressão acima de 1.000 banners, por exemplo, são essencialmente feitas por serigrafia. Ela também pode estar presente nos objetos mais comuns do nosso cotidiano, como no logotipo que marca nosso celular ou computador, na maior parte das canetas com algum tipo de impressão no corpo, grande parte dos brindes distribuídos em campanhas de marketing, alguns vidros de fachadas de prédios, placas de sinalização de ruas e rodovias, nos seus óculos de sol, em alguns frascos de batom, no painel do seu forno de microondas, enfim, onde existe impressão, a serigrafia pode estar – e provavelmente está – presente.
E é por isso que dizemos que a serigrafia tem um papel fundamental e nossas vidas, mesmo sem percebermos. “O serígrafo não tem noção da sua importância na cadeia produtiva e na influência que seu trabalho gera na vida das pessoas. O serígrafo é um artista, é quem transforma uma ideia em realidade. É uma pena que a profissão não seja valorizada”, completa Barcha.
Mas o que levou a serigrafia a esta fama de processo sujo e “de fundo de quintal”? O fato é que no Brasil – diferente do que acontece no exterior – grande parte dos serígrafos não se especializou, nem se atualizou, e a serigrafia caiu no popular como um processo ligado essencialmente à moda e feito em casa mesmo – o que não é uma verdade absoluta. Ela esteve e está presente na moda, sim, e por muito tempo foi produzida por pequenos empreendedores, pois foi a saída para muita gente que precisava trabalhar e que não tinha condições de investir em algo que demandasse mais recursos financeiros. Foi aí que popularizou-se a produção de camiseta e banner, que posteriormente teve sua demanda dirimida pela sublimação e pela impressão digital. Mas não é aí que a serigrafia reside efetivamente. A serigrafia industrial sempre foi e continua sendo o processo de impressão mais usado, devido à sua versatilidade, produtividade e baixo custo, além de qualidade fotográfica quando bem produzida.
A tinta certa, a tela bem esticada, o tecido de qualidade, o rodo com a afiação adequada, um bom fotolito, químicos de qualidade, boa vontade e criatividade podem trazer resultados impressionantes, só obtidos com essa técnica. Para a serigrafia, o céu é o limite!
Agradecimentos: Rafael Barcha, da Brasilk (www.brasilk.com.br)